segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A paixão de ler

Já experimentaram reler um livro que vos marcou na adolescência? Eu comecei ontem a viver essa experiência...
Não consigo precisar a idade, mas não tinha mais que 16 anos quando li o livro O Amante de Marguerite Duras. A recomendação surgiu de uma admirável professora de francês, no 10º ano, a professora Clara, que depressa percebeu que a turma, para além de não estar muito motivada, maioritariamente considerava a aprendizagem da língua inglesa mais fácil, útil e conveniente. Os filmes mais badalados da época (anos 90) eram falados em inglês, as músicas que nos embalavam os sonhos e agitavam as almas, regra geral, também. Então, a perspicácia da Professora Clara, levou a que para além do cumprimento obrigatório do programa lectivo pouco atraente, realizássemos uma série de actividades e eventos que em muito contribuíram para que o 10º ano escolar das nossas vidas nunca mais fosse esquecido.
As aulas de francês passaram a ser as mais desejadas: visionámos filmes franceses (mantenho “o bichinho”), fizemos inúmeros trabalhos práticos, para que a matéria encaixasse mais facilmente e, sobretudo, organizámos uma festa de final de ano na qual todos tivemos um papel activo: a recitar um poema, a cantar uma canção, a fazer playback, tudo, claro, em francês.
O que ficou, pelo menos para mim, não foi necessariamente o gosto pela língua francesa, ou a aprendizagem fluente da sua leitura, escrita ou dicção, mas uma descoberta cultural da história e importância deste país, dos seus filmes, dos seus livros e autores, das suas músicas, cantores e compositores.
Fui devidamente apresentada a duas mulheres magníficas: Edith Piaf e Marguerite Duras, esta última, aliás, o motivo pelo qual escrevo estas linhas, mais especificamente o seu delicioso livro O Amante.
Ontem, iniciei a sua leitura, pela segunda vez na minha vida, e fui transportada para a minha adolescência, assim, num ápice. Aproveitei a excelente promoção da revista Sábado e decidi experimentar os sentimentos e emoções que o mesmo livro me provocará com 15 anos de distância.
Na adolescência fez-me chorar, descobrir realidades distintas, de meninas como eu, eternizar frases em cadernos já perdidos, saborear essências picantes, aromas distantes, sonhar com imagens estranhas, rios imponentes, ruas sujas, vidas confusas, explorar a sexualidade ainda tão misteriosa para mim, enfim, inventar-me como mulher e deixar um pouco da criança para trás...
O que será que sentirei desta vez?...

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